quinta-feira, 10 de novembro de 2016

Entrevista ao Globo

Prezado Sergio Roberto O. Roxo
Sucursal SP - Infoglobo 

A seguir, as minhas respostas para tuas perguntas.


1- Qual devem ser as principais medidas para o PT recuperar a sua imagem?

Não concordo que se trate propriamente de um problema de "imagem".
Na minha opinião, o PT deve discutir e adotar medidas em três níveis, articulados entre si.
A saber: como defender os direitos sociais e derrotar o governo golpista; qual o programa de transformações que defendemos para o Brasil e qual a estratégia para isto; mudanças na organização partidária, para que recuperemos o apoio que perdemos, especialmente junto a amplos setores da classe trabalhadora brasileira.
Ou seja, na minha opinião, antes de ser um problema de "imagem", é um problema de linha política, do qual decorrem medidas organizativas.

2- O Movimento Muda PT deve ter um candidato único na eleição para presidente do partido?

Na minha opinião, uma das coisas que precisamos mudar é esta maneira de colocar o problema. 
Começar a discussão por quem será candidato à presidência é um erro. Aliás, precisamos mudar esta lógica segundo a qual temos uma presidência acima da direção. 
Precisamos de um coletivo dirigente, que funcione democraticamente. 
O ponto de partida deve ser, na minha opinião, o debate sobre a tática, a estratégia, o programa e a organização partidária.
Se construirmos unidade em torno destas questões, aí será possível construir uma chapa comum e uma candidatura presidencial comum. 
No momento, o que nos une é a defesa de um congresso plenipotenciário para decidir os rumos do PT. Seria desejável que avancemos, mas isto quem vai dizer é o debate. Da minha parte, há um pressuposto inegociável: a defesa do PT.

3- Por que o PED não é uma forma adequada para escolha da direção partidária?

Na minha opinião, o PED realmente existente incorporou vários vícios presentes nas eleições tradicionais; e incorporou, inclusive, algumas práticas que são inaceitáveis até mesmo nas eleições tradicionais.
Mas o problema principal, hoje, não é este. 
O problema principal é que não estamos discutindo apenas como escolher a direção; estamos discutindo, entre outras coisas, como debater e aprovar uma nova orientação programática e estratégica para o Partido.
A melhor maneira de fazer isto é através de congressos presenciais, onde a militância debata antes de votar. 
O método do PED coloca o voto em urna acima do debate, acima da construção de sínteses coletivas. 
E, neste momento, precisamos muito de debate e sínteses coletivas.
Há outro problema no PED, sobre o qual se fala pouco, a saber: no PED, os filiados votam em chapas que já vem prontas desde cima. 
Para que um militante de base saia delegado ao congresso nacional, o nome dele tem que estar na lista apresentada por uma chapa. 
E segundo as regras atuais, na prática quem monta a chapa são as tendências nacionais. 
Ou seja, na prática o PED --ao menos tal como ele é hoje-- transforma o PT num partido exclusivamente controlado por tendências. 
E é óbvio que o PT é muito maior do que as tendências.
Eu faço parte de uma tendência, acho positivo que as tendências existam, mas prefiro um sistema de congresso, onde os militantes de base não alinhados com nenhuma tendência possam montar chapas e eleger seus delegados.

4- Existe, na sua avaliação, risco de debandada se a CNB impedir uma mudança mais radical na forma de funcionamento do partido?

Viver é arriscado. O que eu posso te garantir é o seguinte: nosso movimento chama-se Muda PT. Portanto, queremos mudar o PT. Não queremos mudar "do" PT.
O problema é outro: existe um grande número de militantes petistas, não alinhados com nenhuma tendência partidária, que querem participar do debate sobre os rumos do PT. E não querem apenas votar. 

5- Como o partido deve lidar com filiados investigados ou condenados por envolvimento em escândalos de corrupção?

Corruptos devem ser expulsos do PT.
E o PT deve tomar medidas preventivas para não ser contaminado por práticas corruptas.
Mas quem decide sobre isto é o PT.
Não é o Moro, não é o Gilmar Mendes, não é o Janot, não é a Polícia Federal nem muito menos a Rede Globo.
Ou seja: eu não sou a favor de punir alguém apenas pelo fato desta pessoa estar sendo investigada ou condenada por uma "justiça" cada vez mais seletiva e de exceção.
Agora que te respondi, te faço uma pergunta: por qual motivo os meios de comunicação tratam o PT de um jeito e os partidos conservadores de outro jeito, quando se discute o tema da corrupção?



Um comentário:

  1. Pomar: vcs sempre dizem que são perseguidos pela imprensa, falam em FHC, Maluf, etc. Mas o diferencial é que o pT sempre deu para essa mesma imprensa denúncias e informações propondo moralização. Inclusive sempre tentou pautar essa imprensa até bem recentemente, assim como a carta de Lula ao Jornal Nacional e´essa mesma tentativa: desejo de tornar "nossa" a imprensa dos monopólios, pautar a grande imprensa do nosso "jeitinho petista de ser".
    Noves fora, a grande bandeira de Maluf e FHC nunca foi a moralização da política.

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