segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Perguntas e respostas sobre o relatório da CNV

Entrevista concedida à jornalista Lucia Rodrigues, que está escrevendo um artigo para a revista Caros Amigos.

  
Queria que vc comentasse o que achou do relatório da CNV, apontado pontos positivos e eventuais falhas.
De maneira geral, achei o relatório positivo.

E qual é a sua expectativa em relação a esse texto. 
Em relação ao texto não tenho expectativa nenhuma.
O que eu pretendo fazer é pressionar para que o governo, o parlamento e a Justiça implementem as medidas sugeridas.

Considera que possa levar os torturadores para a cadeia. 
Considero que é possível fazer isto, se houver pressão social e disposição das instituições.

Considera importante o relatório trazer o nome dos torturadores e dos ex-presidentes que deram o suporte para as torturas?
Considero essencial que se tenha citado os ditadores, pois a tortura, os desaparecimentos, a ocultação de cadáver, os assassinatos foram uma política de Estado e portanto os ditadores são diretamente responsáveis e devem ser punidos.

Queria que vc comentasse também a importância da Comissão da Verdade para o avanço da democracia, apesar de suas limitações. 
Meu ângulo é o seguinte: o Brasil precisa de forças armadas e policiais. Mas estas forças armadas e policiais precisam estar sob controle. E para que elas estejam sob controle agora e no futuro, é preciso deixar claro que certas atitudes não serão toleradas. E só há um jeito de deixar isto claro: punindo exemplarmente os crimes cometidos durante este grande crime que foi a ditadura. 

Queria que abordasse a reação dos militares ao relatório. Vc considera que há algum risco de retaliação? 
Os militares da reserva e parcela da cúpula militar da ativa já vem reagindo, há anos. Portanto, não se trata de um risco, se trata de uma ação que já está em curso. Como cidadãos, eles podem fazer o que a lei permite. Mas enquanto militares, servidores públicos submetidos a uma legislação específica, quem reagir de forma ilegal deve ser tratado como a lei prevê.

A democracia corre risco? 
A democracia corre risco, se os que defendem as liberdades democráticas não conseguirem punir exemplarmente os que cometeram crimes durante a ditadura militar.

Como vc viu aquele incidente do velho tomando de assalto o microfone pra defender a ditadura durante o evento na OAB. 
Previsível e patético.

Vc acha que a publicação do relatório vai acuar a extrema-direita que ta indo pra rua pedir a volta dos milicos. 
A extrema-direita não será acuada por um relatório. A extrema-direita será acuada por ações políticas de massa, por medidas judiciais, por medidas educacionais e de comunicação.

Também queria que vc falasse como viu o choro da Dilma e como ela pode ajudar a passar essa história a limpo. 
Quem viveu, lutou e sofreu naquela época tem todo o direito de se emocionar. O que espero da presidenta Dilma é que coloque o governo para cumprir a parte que lhe cabe das recomendações do relatório da CNV.

Vc considera que o ministério público, a defensoria e a magistratura vão levar adiante as recomendações do texto. 
Se houver pressão social, sim, vão levar adiante.

Como viu a recomendação para o fim da PM? 
As polícias militares são uma das muitas heranças malditas da ditadura militar.

Dá pra dizer que o Brasil entrou no rol dos países que querem colocar seus algozes na cadeia? 
Dá para dizer que estamos mais perto disto.

Para a ONU, os crimes não podem ficar impunes, mas o Brasil não acatou a sentença da Corte Interamericana de DH sobre o Araguaia até hoje. 
Esta é uma das mudanças de atitude que espero do segundo mandato da presidenta Dilma. Não dá para apoiar as críticas e condenações de outros países, na área dos direitos humanos, e ao mesmo tempo adotar esta postura.

Queria que comentasse tb a importância da divulgação do nome das empresas envolvidas na repressão. 
A ditadura foi militar e os militares envolvidos, assim como as forças armadas institucionalmente, devem ser responsabilizadas. Mas é evidente que o grande empresariado foi o maior beneficiado pelo golpe e pela ditadura. Assim, é muito positivo mostrar quem se envolveu diretamente, embora o conjunto do grande capital tenha se beneficiado.

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