terça-feira, 16 de setembro de 2014

Marina, peça para Rands dar mais entrevistas assim

Marina tem um notável grupo de assessores, entre os quais a “educadora” Neca Setúbal e o “filósofo” Eduardo Gianetti.

Mas a celebridade do momento é Alexandre Rands, que numa entrevista ao jornal O Globo (14/9) acusou a presidenta Dilma de “tratar os empresários como prostitutas”.

A entrevista está disponível em http://oglobo.globo.com/brasil/dilma-trata-empresarios-como-prostitutas-diz-coordenador-economico-do-programa-do-psb-13925349

Rands confirma que concorda em “80% dos temas” com os tucanos.

Segundo Rands, a concordância com os tucanos existe porque há “alguns consensos na teoria econômica. Estão em todas as universidades americanas, em 98% das europeias, em 95% das asiáticas e 97% das brasileiras”.

Os percentuais podem estar exagerados, mas na essência o que Rands diz é verdade: grande parte do pensamento acadêmico foi colonizado por teses pró-mercado financeiro e pró-transnacionais.

Já sabíamos que o PSDB defende estas teses.

Rands apenas reafirma que Marina e seu partido-hospedeiro defendem o mesmo.

E Dilma? Segundo Rands, ela “pensa com a cabeça de Campinas, que hoje é uma ilha que parou no tempo”.

Por Campinas, Rands refere-se a Universidade de Campinas: “só uma universidade aqui não tem articulação internacional: a Unicamp. Ela é endógena. Mas tem uma força no governo Dilma que não tinha no de Lula, que era muito mais próximo do que Marina defende hoje”.

Rands “exagera”, digamos assim.

É fato que a Economia da Unicamp está “à esquerda” da média. Assim como é fato que no primeiro mandato de Lula, social-liberais como Palocci tiveram muita influência. Mas daí não se deduz o restante.

Assim como não é não é fato que as eleições de 2014 são a “primeira vez” em que “cada candidato tem propostas de desenvolvimento baseadas em concepções diferentes”.

Para piorar, Rands é meio tosco na hora de falar destas concepções.

Ele diz que “na visão de Marina, reformas institucionais são importantes, mas mais importante é o impulso da educação, que aumenta a produtividade”.

Diz também que “para os tucanos, bastaria manter o gasto sob controle e crescer. Depois, isso se resolve”.

Já Dilma teria “a visão estruturalista de privilegiar um ou outro setor com políticas discricionárias. O governo fica tentando aumentar o crédito para estimular a demanda. É um modelo econômico altamente inflacionário, baseado no (economista) Celso Furtado”.

Rands agrega ainda o seguinte: “a escola de Campinas e grande parte da esquerda brasileira não conseguiram se libertar de Celso Furtado. Só que é um modelo que gera uma crise dentro dele próprio. O que são R$ 500 bilhões do Tesouro no BNDES para subsidiar empresários? É dinheiro direto na veia dos grandes empresários. Tem coisa mais de direita do que isso?”

Para desagrado dos setores do PSB que, mesmo a serviço de uma candidatura pró-capital financeiro, ainda tentam “manter a classe”, Rands diz que Celso Furtado hoje não faz sentido. E questiona inclusive se já fez sentido em algum momento.

É perfeitamente legítimo e necessário debater os limites da interpretação feita por Celso Furtado.

E, óbvio, gente de direita tentará questionar Celso Furtado também pela direita.

Mas o argumento de Rands é algo indescritível: “Lá atrás, quem seguiu modelo diferente se deu melhor. A ditadura da Coreia do Sul, que na década de 1960 era mais pobre que o Brasil, industrializou, mas sobretudo investiu na educação”.

Leram?

Não se trata apenas da falta de cautela científica, imprescindível quando se pretende fazer análise comparada entre países como Brasil e Coréia do Sul.

O problema principal é: trata-se de alguém importante numa campanha presidencial, campanha que considera como o mais importante o impulso da educação que aumenta a produtividade, que dá uma entrevista elogiando uma ditadura por investir sobretudo em educação.

Rands entra para a direita dando seta para a esquerda: no Brasil, segundo ele, temos um “governo subjugado ao empresariado". 

Até aí, Rands repete a cantilena. Mas ele resolveu florear e saiu-se assim: "Dilma detesta os empresários, mas todas as políticas são para eles fazerem o que bem entenderem. O governo bate, mas depois convida para um drinque. Trata os empresários como prostitutas. Quer estar com elas, desfrutar de suas benesses, mas depois vai denegrir sua imagem”.

Deixo para outros uma análise literária destas frases. Temo que nem Freud explique todos os preconceitos presentes na comparação utilizada por Rands.

Agora, quanto a consistência política do que é dito, valeria perguntar exatamente o mesmo que o Globo pergunta a Rands: “Se os empresários lucram, como explicar a resistência à reeleição de Dilma?”

Ou seja: por quais motivos o grande empresariado brasileiro reagiu de uma maneira entre 2006 e 2010 e reage de outra maneira, entre 2011 e 2014? Descobrir estes motivos exige analisar, também, o que ocorreu com os chamados "setores médios" e com os trabalhadores assalariados.

Responder a estas questões permitirá debater, com seriedade, não apenas as relações existentes hoje, entre cada setor do empresariado e o governo Dilma; mas principalmente debater quais os limites e possibilidades do segundo mandato.

Dito de outra maneira, permitiria debater, para além de frases feitas,  quais as "propostas de desenvolvimento baseadas em concepções diferentes” de cada candidatura presidencial.


Infelizmente, a resposta de Rands ao Globo é a seguinte: “você acha que as prostitutas confiam nos homens que recebem? Chamariam um deles para a festa de aniversário do filho? Claro que não. Só têm interesse e medo”.

Do ponto de vista das ideias, é um desastre. Mas sem dúvida ajudam a esclarecer a "qualidade" do pensamento da equipe de Marina.







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