quinta-feira, 29 de maio de 2014

De tédio não morreremos

Editorial
De tédio, não morreremos
Esta edição do jornal Página 13 corresponde aos meses de dezembro de 2013 e janeiro de 2014.
Nela, os leitores encontrarão um balanço do processo de eleição das direções partidárias, ocorrido em novembro de 2013. Não se trata de um balanço completo: pretendemos voltar ao assunto na edição que circula em fevereiro de 2014. Aproveitamos, também, para apresentar a bancada que representará a Articulação de Esquerda no Diretório Nacional do PT, empossado dia 12 de dezembro de 2013.
Encontrarão, também, textos analisando os desafios de 2014, em diferentes frentes: Igor Fuser aborda o cenário internacional, sob o prisma do Irã e da Venezuela; Breno Altman fala de pesquisas e eleições presidenciais; João de Deus trata da momentosa eleição maranhense; Rubens Alves fala da pauta pauta legislativa do próximo ano; Max Altman e Rodrigo César abordam, em dois textos distintos, o tema da reforma política; Jandyra Uehara trata dos desafios da CUT, com um texto específico dedicado aos trabalhadores da educação.
Página 13 republica, também, um texto de Valter Pomar, sobre o significado estratégico das prisões de Genoíno, Dirceu e Delúbio. E publica um inédito de Iole Iliada, sobre o debate de ideias no Partido dos Trabalhadores, a luz de um importante evento realizado pela Fundação Perseu Abramo, em novembro-dezembro de 2013.
Ricardo Menezes aborda os desafios da saúde pública, Jonatas Moreth fala da juventude petista, Patrick Campos e Adriele Manjabosco falam do recente congresso da União Brasileira de Estudantes Secundaristas. E Marcos Lazaretti, coordenador geral da UEE Livre do Rio Grande do Sul, fala da eleição do Diretório Central dos Estudantes de Santa Maria (RS).
Além disso, Página 13 traz um texto acerca de Marcelo Deda, militante petista, governador de Sergipe, que recentemente nos deixou.
*
Se não houver contratempos, esta edição de Página 13 começará a circular na abertura do V Congresso Nacional do Partido dos Trabalhadores, entre os dias 12 e 14 de dezembro de 2013.
Este Congresso foi convocado solenemente em dezembro de 2012. Mas desde o debate sobre a Convocatória do Quinto Congresso, ficou clara a existência, no Partido, de pelo menos duas posições distintas a respeito.
Todos reconheciam existir uma contradição entre as necessidades da luta política imediata, por um lado, e as diretrizes mais estratégicas e programáticas que deveriam emergir do Congresso, por outro lado.
Alguns propunham resolver esta contradição rebaixando o Congresso, transformando-o numa convenção eleitoral. Outros propunham resolver esta contradição, elevando nossa tática às necessidades de nossa estratégia.
A polêmica se traduziu, do ponto de vista prático, na elaboração de um documento de subsídio ao Congresso, que deveria ter sido debatido pela CEN, pelo DN e em encontros especiais, simultaneamente ao PED. E que, após o PED, seria refeito, incorporando as contribuições das teses apresentadas ao debate.
Tais debates nunca ocorreram. E o documento apresentado como contribuição ao V Congresso, assinado por apenas dois dos vários integrantes da comissão, é basicamente o mesmo produzido antes do PED.
Por sua vez, a chapa “Partido que muda o Brasil”, que disputou o PED com uma tese, abriu mão desta tese em favor do documento assinado por Marco Aurélio e Ricardo Berzoini. Convenhamos, não teria sido melhor que tal documento fosse apresentado e debatido pelos filiados ao longo do PED? Ou terá prevalecido a opinião, manifestada por um dos autores do documento, segundo o qual o PED não serve para “este tipo de debate mais de fundo”?
A Articulação de Esquerda divulgará, numa separata distribuída diretamente aos delegados e delegadas presentes ao V Congresso, uma análise crítica da contribuição escrita por Marco Aurélio e Ricardo Berzoni, cotejando com o que era dito pela tese da chapa “Partido que muda o Brasil” e propondo emendas.
Seja como for, o fato é que o V Congresso começa agora, mas não termina agora. O que foi convocado para o final de dezembro é uma sessão inaugural, composta por uma mesa de posse das novas direções (onde falarão Rui Falcão, Lula e Dilma Roussef); outra mesa dedicada a Genoíno, Dirceu e Delúbio; uma terceira mesa, onde Marco Aurélio e Berzoini apresentarão seu texto, seguido de opiniões dos presidentes da CUT, da coordenação do MST e da diretoria da UNE, depois do que terão (ufa!!!) o direito de falar os representantes das chapas que concorreram ao PED; e uma quarta mesa, dedicada a debater os temas programáticos e estratégicos, com base na contribuição de quatro intelectuais. Finalmente, no sábado 14 de dezembro, haverá a votação de resoluções.
Em algum outro momento, talvez em março de 2014, os/as delegados/as serão novamente convocados/as, para debater tática eleitoral. E talvez em 2015 se convoque novamente o Congresso. Enfim, os mais velhos devem se lembrar da chamada “tática-processo”; agora estamos diante do “congresso-processo”.
O essencial é que a maioria do Partido decidiu “não mexer em time que está ganhando”. Como diz a contribuição assinada por Marco Aurélio e Ricardo Berzoini: “No ano de 2014 a ação do PT estará concentrada na reeleição da companheira Dilma Rousseff à presidência da República, na expansão de suas bancadas no Senado Federal, na Câmara de Deputados e nas Assembléias Legislativas. Da mesma forma, terá papel central o aumento do número de seus governadores. Claro está que todos estes embates eleitorais exigirão a consolidação, ampliação e qualificação de nossas alianças políticas, essencial não só para vencer as eleições como para o exercício futuro dos governos em nível nacional e estadual. Ainda que as questões programáticas em jogo nas eleições de 2014 não possam ser separadas totalmente de uma política de longo prazo do partido, é necessário evitar que esses temas, de natureza estratégica, se sobreponham e confundam o debate eleitoral do próximo ano”.
Traduzindo: não estamos seguros de que a tática para 2014 ajude a política de longo prazo do Partido, mas estamos convictos de que colocar agora certos temas de longo prazo pode dificultar nosso desempenho eleitoral, assim é melhor não misturar as duas coisas.
Esta opção pode ter vários desdobramentos, inclusive dar certo. Mas há três variantes que nos preocupam.
Na primeira delas, perdemos as eleições por que não percebemos a necessidade de mudar a tática e a estratégia adotadas até aqui. Na segunda delas, ganhamos as eleições e fazemos um segundo governo a altura da tática, mas aquém das necessidades estratégicas, o que terá consequências até 2018 e em 2018. Na terceira delas, ganhamos as eleições e buscamos, após as eleições, fazer um giro na atuação do governo, sem ter construído, durante o processo eleitoral, as bases políticas necessárias para tal.
Não subestimamos a primeira variante. A direita está fazendo um grande esforço para produzir uma tempestade perfeita. E nosso governo tem reagido a isto de maneira recuada, fazendo um grande esforço para conciliar com os interesses do grande capital e do rentismo. As duas variantes projetam um cenário perigoso, econômica, política e eleitoralmente falando. Mas, ainda assim, ainda que no segundo turno, ainda que com dificuldades, o mais provável é nossa vitória com a reeleição da presidenta Dilma.
Mas, em caso da provável reeleição, a opção tática e estratégica da maioria do Partido não terá criado as condições para fazer um segundo mandato superior ao atual. É claro que esta nossa opinião deve ser matizada: uma vitória petista nos estados do Rio de Janeiro, São Paulo e/ou Minas Gerais muda a correlação de forças políticas. Porém, já sabemos de longa data que a depender da política implementada pelos novos governos estaduais, uma vitória eleitoral pode se converter num problema político, como algumas prefeituras conquistadas em 2012 estão demonstrando.
Coerentemente com as posições que defendeu no PED, não esperamos da maioria da nova direção partidária uma mudança na tática ou na estratégia. Continuarão insistindo numa postura geral defensiva e aquém das necessidades e possibilidades da conjuntura e do período histórico.
Da nossa parte, vamos continuar insistindo na necessidade de um giro estratégico e tático, assim como no funcionamento do PT. Achamos que a conjuntura de 2014 tende a ser turbulenta, que a campanha eleitoral será muito difícil, que o PT precisa de outra postura e de outra política, seja para vencer, seja para governar, seja para transformar o Brasil.
Por isto, estamos seguros, nós que somos petistas, de tédio não morreremos.
E que 2014 seja um ano marcado por grandes lutas e grandes vitórias da classe trabalhadora brasileira.
Os editores



Nenhum comentário:

Postar um comentário