domingo, 24 de fevereiro de 2013

Prezado Cabral




Resposta a texto que Adelino Cabral, tesoureiro municipal do Partido dos Trabalhadores, publicou na lista do PT Campinas.

Li com muita atenção tuas reflexões e, de verdade, quero agradecer muito que você as tenha escrito. Pois acho que elas ajudam a explicitar com toda crueza o que está em jogo, seja na realidade, seja no plano da imaginação.
Como retribuição, vou comentar a seguir algumas das tuas reflexões.
1.Voce diz que todos nós concordamos que a agressão promovida à mesa do Diretório Municipal no sábado (16/02/2013) foi um crime (principalmente contra a democracia).
Isto não é verdade.
Alguns de nós praticaram a agressão. Outros de nós fizeram discursos hipócritas acerca da agressão, no próprio dia e na terça-feira, se apresentando como vítimas, quando até as pedras sabem que foram no mínimo coniventes com o que ocorreu.
E você mesmo acha que a agressão foi justificável, como reação a um processo injusto. Veja só o que você diz: apesar de condenarmos estas atitudes consideramos como um forte atenuante dessas agressões, as condições de vida a que foram submetidos pela parte dominante da sociedade.
Ver a este respeito também o ponto 8 deste texto.
O que posso te responder é que os que encomendaram a agressão não fazem mais parte do povo sofrido. Pois quem promove agressão contra o PT, com o objetivo de ficar num governo de fato tucano, é aliado dos opressores.
2.Voce diz que o que está acontecendo nos últimos tempos no PT de Campinas não é tão somente a participação de filiados no governo de A ou de B, mas sim uma clara tentativa de um agrupamento do PT para submetê-lo a uma maioria na busca de atender seus interesses políticos mais que ser direção de todos.
Este teu raciocínio é parcialmente correto, até porque a luta pelo poder interno fazer parte da vida de qualquer partido, em qualquer momento.
Mas faltou você dizer duas coisas fundamentais. A primeira delas é: na luta por prevalecer, um dos grupos se aliou a nossos inimigos; e algumas pessoas, que serão identificadas, adotaram métodos criminosos incompatíveis com a democracia.
Ao não falar estas duas coisas, todo o seu falatório (palavra tua) vira uma defesa disfarçada de quem decidiu entrar no governo Jonas Donizete.
3.Voce apresenta uma versão sobre a história recente de Campinas, do governo Hélio até hoje. Na minha opinião, algumas coisas procedem, muitas são interpretação tua, mas o que me chama a atenção é que você constrói uma versão que anistia quem decidiu participar do governo Serafim.
Ou seja: errados estão os que lutam pelo poder dentro do Partido. Certos estão, ou pelo vítimas são, os que decidam atuar num governo que não é dirigido pelo PT e ao qual o PT faz oposição.
4.Voce informa que levou para a executiva do PT Campinas um pedido de investigação para que se produzi-se um processo de comissão de ética. O pedido denunciava que durante o período de campanha eleitoral presidencial, um dos nossos companheiros foi ameaçado de morte por um militante do PT enquanto fazia o seu trabalho de campanha de seu candidato a deputado Federal/Estadual. Trazida esta denuncia à Executiva do PT está nunca foi levada (….)
Como membro da direção nacional do PT, peço que você me passe cópia deste pedido de comissão de ética, para que eu o apresente a Executiva do Partido. Se as coisas forem como você diz, quem quer que tenha sentado encima do processo pode ser penalizado por obstrução –o código de ética do Partido é claro a respeito. Aguardo a documentação citada.
Aliás, me disponho a encaminhar para a estadual, também, uma representação contra qualquer petista que, não sendo filiado em Campinas, esteja exercendo cargo comissionado no governo Jonas Donizete. Podemos assinar juntos,eu e você. Ciatec inclusive.
5.Acho totalmente lamentável que você se refira ao presidente do PT e a direção partidária, usando os termos Joaquim Barbosa e seu STF. Motivo: Joaquim e a maioria do STF são inimigos do PT. Mesmo supondo que Ari e a maioria do DM tenham cometidos erros, tratá-los como inimigos do PT é um acinte. Especialmente se consideramos que, mesmo podendo ter cometidos erros no processo recente, o fizeram em defesa do Partido, contra pessoas que se aliaram a nossos inimigos.
6. É espantoso que você diga que nesta batalha para levar adiante a candidatura do Márcio, o agrupamento político hegemônico não esqueceu das punições pretendidas, mais que isso não procurou distensionar, uma vez que todos os envolvidos se uniram no mesmo esforço de levar o PT ao comando político da cidade de Campinas.
É espantoso porque simplesmente não é verdade. Não sei exatamente quem integra o tal agrupamento político hegemônico ao qual você se refere, mas o fato é que houve um distensionamento geral durante a campanha. Infelizmente, foi um distensionamento unilateral, porque como todos sabem, uma pequena parte do PT optou por manter distância da campanha.
7. Você diz que o agrupamento hegemônico elegeu 3 vereadores, conseguindo maioria na câmera (diferentemente da gestão anterior). Para manutenção de sua superioridade seria necessário impedir que a participação no governo municipal fosse efetivada. Portanto voltamos à carga com os processos de punição.
Veja que coisa: você converte um ato de coerência (somos oposição, logo não participamos do governo Jonas) em um ato conspirativo (impedir a participação no governo de pessoas de outro grupo).
Ora, há uma preliminar a responder: de que lado está a legimitidade? De que lado está a legalidade? Do lado de quem faz oposição a um governo de fato tucano, contra o qual acabamos de disputar? Ou do lado de quem aceita convite para entrar num governo adversário-inimigo, contra resolução explícita do Partido?
Você escapa desta preliminar no teu texto, mas ao escapar você deixa claro que para você esta preliminar ou não faz sentido, ou já está respondida. Mas se é assim, como você conseguiu votar a favor de uma resolução segundo a qual o PT Campinas era oposição ao governo Jonas???
8. Da mesma forma, você gasta parte do teu texto questionando a legalidade da reunião do diretório municipal de dezembro. E não gasta uma linha para refletir sobre o que estão fazendo no governo Jonas um grupo de filiados ao PT? A quem serve este gesto? A quem ajuda este gesto??
Pelo contrário, você equipara a suposta ilegalidade cometida no diretório de dezembro, ao que ocorreu no STF e, pasme, diz que esta ação é tão anti-democrática quanto a agressão sofrida pela mesa do diretório passado. Está ação é tão de exclusão da sociedade do PT, que pode justificar ações contrárias as práticas democráticas do PT, que não desejamos.
Desculpe, mas teu raciocínio não faz sentido. A ilegalidade básica de Joaquim Barbosa está em condenar sem provas. O caso em tela aqui em Campinas está comprovado: um grupo de filiados ao PT aceitou convite para trabalhar no governo ao qual fazemos oposição.
Também não faz sentido justificar a violência criminosa cometida contra o Diretório Municipal. Sabe porquê? Por que não foi um ato cometido pelos que estavam sendo julgados, não foi um ato cometido por militantes, não foi um ato praticado no calor da hora. Foi um ato premeditado, que envolveu cálculo e planejamento frio, certamente pagamento de pessoas externas ao Partido.
Assim, a verdade é que tua comparação entre o Ari e o Joaquim Barbosa, entre a maioria do DM e o STF, é algo sem o menor nexo.
Evidentemente, isto não impede que se analise o processo realizado pelo Partido a luz da legalidade, do estatuto, e que se corrijam erros formais. Mas o problema não é formal, é político.
O que está em jogo: proteger a campanha heróica elogiada pela presidenta Dilma no ato dos 33 anos do PT? Ou ajudar o governo tucano-donizete?
9.Aliás, convenhamos: você reclama da manipulação por parte da Executiva do PT Municipal se evidencia ainda mais quando da preparação para este diretório (16/02/2013). Mas não teria sido justo citar que o DM de sábado e também o de terça resolveram consensualmente todas as pendências?
10.No item Considerações Gerais – I você começa dizendo que o grupo hegemônico está querendo impor uma cópia do projeto vitorioso PSB.
Supondo que isto esteja ocorrendo desta forma, não seria o caso de você analisar também o que está fazendo o grupo não-hegemônico?
Pois se o teu raciocínio estiver certo quanto a um lado, não caberia então concluir também que o grupo não-hegemônico está querendo impor, não uma cópia, mas sim está querendo impor o projeto do PSB.
Pois é óbvio que entrando no governo do Jonas, estamos fortalecendo este projeto. Que é tão do PSB quanto era no primeiro turno, ou seja, quase nada, sendo na verdade um projeto tucano, tanto quanto Jonas sempre foi tucano.
Isto para não falar do projeto do PSB para 2014, que pelo menos hoje passa por derrotar o PT.
11.Voce faz uma série de considerações acerca do futuro político do Márcio Pochmann. Não vou comentar estas considerações. O que me chama a atenção é que você não considera o Márcio um patrimônio do PT. Você trata o Márcio como se ele fosse patrimônio de um grupo do PT.
Claro que você faz isso de maneira invertida, atribuindo aos outros esta postura. Mas se você não concorda com esta postura, então você deveria dizer: o que devemos fazer com o patrimônico coletivo que o PT construiu em 2012? Sobre isto você não fala absolutamente nada.
12.Na tua análise do futuro, você chega a dizer que eles que implementarão o governo eleito em 2020. deixando os demais grupos de joelhos e com as migalhas.
Chega a ser hilário que, depois de tudo que ocorreu de 2000 até hoje, haja quem acredite a sério em planejamentos vingativos para 2020!!!!
Prezado, rememore todas as reviravoltas ocorridas desde 2000. Altos e baixos eleitorais, guinadas para a esquerda e para direita, gente fora e gente dentro de governos, alianças internas mutáveis. Na boa, relaxe: o único que podemos enxergar hoje com clareza é: vamos trabalhar para vencer em 2014 e 2016. E, para fazer estas duas coisas, vamos fazer oposição ao governo do Jonas.
Aliás, este é o ponto. Você pinta o terror em 2020, para não ter que pintar o terror que seria em 2016 se parte do PT estivesse amarrado ao governo Jonas.
O que está em jogo não é colocar uma parte do PT de joelhos em 2020. O que está em jogo é impedir o PT de ficar de joelhos frente a tucanada agora, em 2014 e em 2016.
13.Voce diz que se por acaso houver uma convergência do PSB com o PT para as eleições de 2014, isso pode proporcionar alguma aproximação e alguma possível distribuição de espaço no governo municipal. Entretanto isso só pode acontecer pelas mãos do agrupamento hegemônico, nunca por outro grupo. O maior crime que do grupo que se aproximou do Jonas cometeu é inverter essa lógica e isso é inadmissível.
O único crime cometido até agora foi contratar bate-paus para dissolver a reunião do DM. Este crime será apurado e os criminosos serão punidos.
Quem foi para o governo está cometendo um erro político. Que é inadmissível porque desrespeita uma decisão partidária e, principalmente, é um erro porque desconstitui o acúmulo de forças constituído durante 2012.
Acontece que na tua lógica, as decisões partidárias não são decisões partidárias, são decisões de um grupo. Mesmo quando são adotadas por 100% do DM. Talvez porque, neste caso dos 100%, os que falam em fazer oposição o façam apenas para inglês, digo, Cabral ver.
14.A parte mais reveladora do seu texto está nas Considerações Gerais – III. Lá você diz que há um conjunto de militantes que moram longe dos bairros nobres de Campinas, para os quais é difícil explicar porque suas lideranças não podem ter emprego (salário), moradia ou mandar seus filhos às melhores escolas, como podem as lideranças que moram nos bairros nobre de Campinas. Porque mesmo quando o PT não ganha a eleição local, eles são chamados para trabalhar no governo de outros municípios ou em algumas instituições ligadas ao partido. Afinal todos nós não lutamos para ter uma sociedade com oportunidades iguais?
Este é o grande momento do seu texto, que revela de maneira explícita uma lógica que vem se insinuando dentro do Partido, segundo a qual devemos fazer da política um mecanismo de ascensão social…. individual.
Você propõe inclusive fazer um ProUni para que essas lideranças de periferia possam ocupar posições de destaque no partido. Precisamos criar uma cota para os “ignorantes políticos” como somos chamados, possam ter um “up-grade” e no futuro podermos discutir com os “trintões” tradicionais do PT de igual para igual, para podermos ocupar adequadamente as posições na hierarquia Petista. Isso deve ser feita através do partido, não através do mandato de parlamentares.
Ou, de maneira mais explícita, você propõe criar cota nos cargos remunerados para aqueles que conseguem votos para manter o Partido dos Trabalhadores como o maior partido do Brasil.
Noutro texto, com calma, vou fazer uma análise disto que você diz. Por um lado acho que você aponta um problema real: precisamos de políticas de formação de quadros, precisamos dar grande atenção aos militantes dos bairros com maiores carências, precisamos ter políticas claras, democráticas e transparentes para definir quem ocupa postos no aparato de Estado, não podemos reproduzir políticas de privilégio.
Mas, por outro lado, este tema pode ser legítimo no debate sobre nossa participação nos governos encabeçados pelo PT ou nos governos dos quais o PT participe. Mas adotar este critério, na discussão sobre a participação em um governo que não é do PT, significa aceitar submeter o PT a um leilão.
E isto é tão inadmissível quanto a violência que você condena da boca para fora. Aliás, além de perguntar quem pagou os seguranças de terça, que tal perguntar quem pagou os de sábado? Afinal, como você poderia ter dito mas não disse, reclamais das águas turbulentas mas esqueceis das margens que as oprimem.

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