terça-feira, 2 de outubro de 2012

Editorial P13 edição 113 de outubro


No dia 17 de setembro, durante reunião da Comissão Executiva Nacional do PT, um parlamentar e dirigente partidário confessou, com outras palavras, que existe alguma coisa acontecendo que ele não conseguia entender, nem explicar. Ele se referia as dificuldades enfrentadas pelo Partido no processo eleitoral de São Paulo capital. Mas sua inquietação encontrou eco nas informações e análises acerca de outros cenários.

Da nossa parte, reconhecemos que há muito por entender e explicar. Mas, no fundamental, o que estamos assistindo neste processo eleitoral não deveria surpreender ninguém, pois se trata apenas da confluência de vários fatores que vem se acumulando há algum tempo. Para os quais, vale dizer, temos alertado seguidamente nos editoriais e demais textos publicados em Página 13.

A seguir, uma lista:

1. A avaliação positiva de Dilma e nosso governo federal não se traduz necessariamente em voto equivalente por parte de nossas candidaturas;

2. A oposição de direita (PSDB, DEM e PPS), embora com dificuldades, não está e nunca esteve morta;

3. As grandes empresas de comunicação fazem uma campanha permanente contra o PT e contra as idéias da esquerda;

4. Parte da base de apoio do governo está em campanha para derrotar o que eles denominam de hegemonismo do nosso partido;

5. A ampliação da capacidade de consumo de uma parcela da população brasileira, sem a correspondente politização e organização, deu origem a um setor social fortemente manipulável pelo populismo de direita e por idéias conservadoras;

6. A renovação geracional da população brasileira faz com que, para uma parcela do eleitorado, nós possamos ser apresentados como parte do passado, não do futuro;

7. A manipulação do julgamento do chamado mensalão, num conluio entre setores da direita do judiciário, grandes empresas de comunicação e a oposição de direita, coloca parcela do petismo na defensiva;

8. O financiamento privado das campanhas chegou a um ponto de total esgotamento, com custos nas alturas e doações na baixada.

A isto tudo podemos agregar um aspecto pouco debatido na direção nacional do PT, mas que para nós é fundamental: as opções macro e microeconômicas do governo federal, para combater a crise e seguir desenvolvendo o país, misturam medidas corretas com concessões exageradas ou simplesmente incorretas ao grande capital. Numa imagem: o Mantega de hoje é melhor que Palloci, mas não é melhor que o Mantega de ontem.

Tudo que foi dito anteriormente não implica que o PT vá sair derrotado das eleições municipais de 2012. O risco de derrota eleitoral e política existe. Mas nada impede o que está ocorrendo nesta reta final, com muitas candidaturas do PT reagindo e tornando factível um saldo de vitória política e/ou eleitoral.

Entretanto, o fundamental é perceber que se acumularam imensos problemas, cuja solução passa por uma revisão na estratégia partidária. Sem isto, a derrota virá, mais cedo ou mais tarde.

A revisão deve incluir deixar para trás certas ilusões. Neste sentido, uma análise fria do julgamento no STF confirma a natureza estruturalmente conservadora do poder judiciário brasileiro e, por tabela, do Estado brasileiro.

Isto diz muito sobre os limites da estratégia de mudança por dentro. Se não houver uma reforma do Estado, se não houver pressão social de fora para dentro, se não perdermos as ilusões, a mudança que virá será contra nós, não a favor dos trabalhadores.

Esta edição eletrônica de Página 13 chega aos leitores na véspera da eleição. Votemos 13, nas candidaturas do PT. E que o dia 7 de outubro consagre Chávez presidente da República Bolivariana. Logo após a eleição, a edição 113 em papel, atualizada com os resultados do primeiro turno, será enviada para as casas dos assinantes.

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